Engraçado porque essa coisa do hermetismo me é peculiar desde a infância. Me lembro de que quando eu tinha uns cinco anos eu fiz um desenho. Quando se tem cinco anos é muito legal desenhar. E eu me lembro perfeitamente do desenho naquele caderno quadriculado da pré-escola encapado com papel azul e plastificado também. Pausa para recordação: me lembro que naquele mesmo caderno, a tia Carminha, minha primeira professora, escreveu uma dedicatória pra mim antes de abandonar minha sala por estar doente. A tia Carminha usava calças de cotton e camisetas compridas que ela prendia só de um lado no cós das calças. Um horror, Jesus! E eu achava aquilo bonito, elegante e queria copiar. Tia Carminha foi a primeira pessoa de quem senti falta e por quem chorei na vida, e ela escreveu:
"Querida Ana Laura, espero que você continue sempre sendo essa garota esperta, atenta e inteligente que gosta de ouvir e de contar histórias. Com carinho, tia Carmem".
Óunnn... Tia Carminha, te dedico!
Voltando ao desenho. Então eu desenhei uma cabine de vidro alta e com duas escadas bi-laterais de acesso. Ela era cheia de detalhes e, por alguns instantes, me remeteu a um dragão. Dentro dela estava minha família toda: mamãe, papai e irmãozinho (que era um recém-nascido). Intitulei o desenho de "robô-dragão feminino de observação". E eu não faço a menor idéia do que eu queria dizer com isso. Mas naquela época fazia o maior sentido pra mim. Como essas palavras fazem hoje. E depois eu aprendi a fazer sentido usando as palavras, ao invés dos desenhos, e dizer coisas bobas propositalmente para te atingir, paixão. Mas se veio só pra tentar me decifrar recomendo que você pare por aqui.
Acontece que é muito anormal essa minha mania de despejar meus monólogos interiores em qualquer lugar em branco. Lugares brancos e passíveis de serem escritos sempre me pareceram um convite. E também penso que fluxos de consciência deveriam ficar dentro da... da... consciência? Mas é tão bonito... tão bonitinho. Eu só escrevo desse jeito torpe e aparentemente embaraçado quando fico altruísta e hipersensível (apesar de hoje estar com o saco cheio de tudo e sem nenhuma vontade de chorar). Mas ontem eu tava assim e hoje, quando cheguei no trabalho, encontrei uns escritos na minha mesa. Se não fosse pela letra eu poderia ju-rar que não fui eu. Mas pela grafia, que nem é cali, e é inconstante e meio desengonçada, eu sabia que fui eu mesma. Sim, fui eu! Transcrevo então um trecho?
Sinto como se o mundo inteiro fosse uma lenta camada de... de... magma vulcânico, sabe? Não? Então, é assim: sinto como se eu tivesse aqui, dentro desse cômodo branco e estático e é como se tudo ao meu redor fosse uma espessa camada quente e vermelha de magma escorrendo e vindo lentamente na minha direção. E eu não quero correr. Quero me queimar, pra valer, porque queimar é sensação, baby, e o contrário é ócio, é tédio, e fogo? Além de quente é tão bonito, atraente, sexy... ui!
(?)
Avisei pra não continuar lendo. Agora taí: decífra-me ou te devoro!
Beijinhos enigmáticos.
5 comentários:
Lauren, por ventura seria alguma influência do quarto branco do "Big Brother" ? kkkkkkkk...(tá amiga, tenho assistido - o que demonstra o enorme tédio que me encontro).
Acho que se começasse a ler "Clarice" agora, até acharia legal kkkk...depressão, amiga!
Beijos...Ah! lí só alguns post...mas vou colocar a leitura em dia, ok?
té.
Ai amiga... as folhas brancas são nossa salvação e ruína!
Você está é com espírito rebelde (ou estava quando escreveu... rs). Essa história de quarto branco e magma vindo na sua direção e você não querendo ir contra isso, mas experimentar, deixar fazer parte, envolver-se só mostra como quer um desafio, ou melhor, quer é uma antítese! hehehe...
E o que é o amor e a paixão se não uma grande e bem articulada antítese?
continuemos com os mistérios!!!
ps - nunca fui bom com desenhos! Nunca! Palavras sim.
intenso esse final ein adorei o post
HAHAHAHAHAHAHA
"Beijinhos enigmáticos"
"Irei até onde o ar termina, irei até onde a grande ventania se solta uivando, irei até onde o vácuo faz uma curva, irei onde meu fôlego me levar."
Clarice Lispector in A Hora da Estrela
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