terça-feira, 11 de novembro de 2008

[Desmistificação]

A vida é mesmo uma escrota-mór. Todos dançam a musiquinha irônica que ela, por capricho, decide tocar. Todos, menos eu, rebelde que sou fico aqui parada, me recusando ceder ao destino enquanto as pessoas alienadas me olham com desdém, pensando que estão levando alguma vantagem por se entregarem sem reservas a esse grande circo. Uma palhaçada sem fim...
As pessoas são importantes pra mim até certo ponto. Depois eu sempre opto por mim mesma. Meu amor próprio é a maior fraude do universo inteiro, mas meu orgulho sim é de verdade. E é mentira que eu não seja capaz de amar pra sempre mas, olhe só, eu nunca vou prometer isso a ninguém.
Um dia você se segurou em mim, nos meus cabelos, me apertando, como se tivesse medo de cair e, de repente, percebi que você tinha se esquecido de se soltar, então fiquei pensando se você realmente poderia ser um dos amores da minha vida.
É tão idiota pensar que um dia inevitavelmente todas as coisas serão esquecidas. Até aquelas pelas quais você chorou. Eu juro que não queria me esquecer de nada, de nenhuma daquelas tardes, meu bem. Mas vou.
Acho completamente espantosa a minha capacidade de despertar os sentimentos mais extremos nas pessoas - do amor ao ódio - todos tem algum sentimento por mim. É incrível mesmo porque eu não faço absolutamente nada pra isso. Nunca. Simplesmente vivo a minha vida, bem rotineira, quase que medíocre, não reparo nos rostos das pessoas e nem na maneira com que elas surgem e, apesar de sempre ter uma opinião formada sobre todas as coisas, eu gasto meu tempo com as palavras. Escrevendo palavras, lendo palavras, ouvindo palavras e chorando por alguns motivos [inexistentes] dos quais nunca, ninguém saberá.
A minha vida é tão simples, veja bem, não há mistério algum além dos que eu mesma construo em minha mente doentia. Eu invento alguns sentimentos pra chorar, alguns anseios pra guardar, algumas características bem estranhas pra ter e todos acabam, de alguma forma, acreditando em mim, no que eu invento ser. Mas, por Deus, eu juro, não há mistério nenhum!
Eu nunca te pedi nada. Só queria que você me desse a sua mão e me deixasse segurar em você, nos seus cabelos, que eu me esquecesse ali, tão perto, mesmo que você se lembrasse disso muito bem e pensasse que talvez eu pudesse ser um amor na sua vida. Veja, um. Eu nunca tive pretensões, você também não deveria ter tido. Você não soube gostar de mim, gostar assim, em doses homeopáticas. Pense: essa pessoa pode ser o amor da sua vida. Goste dela, não faça assim. Não tente ser pros outros o que eu fui pra você. Individualize cada sentimento seu, me odeie, mas mantenha a sua capacidade de amar. Não use por usar, não faça por fazer, não esteja por estar, não se contamine com a minha doença. Eu não quero estragar sua vida!

Eu não me interesso por nada que não me diz respeito. Enfatizo: eu não me interesso mesmo.

Hoje eu quero que você se segure em outros cabelos, aperte outro corpo, tenha medo de cair. E que você se esqueça completamente daquelas tardes, daquele meu jeito de segurar sua mão e, calada, dizendo milhares de coisas, te olhando de um modo infantil, enquanto você pensava saber quem realmente sou, com os olhos fixamente fincados nas suas pupilas, me enxergando em seus espelhos, sorrindo do modo mais desdenhoso, fingindo ser quem você esperava que eu fosse, enfiando meu sorriso na sua boca e dando gargalhadas dentro de você.


"... Mas o meu principal está sempre escondido.
Sou implícita.
E quando vou me explicar perco a úmida intimidade".

7 comentários:

.a nega do neguinho. disse...

Fazia tempo q eu não lia um texto tãão tu!

Gostei!


:)

Anônimo disse...

Lispector...Lalinha!
Esse transbordar de obscuridade é o que me fascina e faz com que eu as leia sempre!

;)

Ciça. disse...

Ai, gostei tanto da parte de ser um amor da vida da pessoa. É tão verdade...

:*

Unknown disse...
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Biel, o Bardo disse...

Eu adoro posts/cartas/reflexões como se fossem um acerto de contas a um ser unicamente conhecido por nós mesmos (fiz muito disso nas minhas Breviações).
Aquelas verdades entaladas e imaginadas nunca ditas porque o momento certo (idealizado, claro), nunca apareceu.
E como parece nos aliviar e ao mesmo tempo nos revoltar a idéia desse encontro para "lavar a alma".
Por isso escrevemos, por isso somos egoístas - que eu acho caber melhor do que orgulhosos.

outro!

@eddiepomini disse...

Adorei.
Palavras muito bem colocadas e uma forma sutil e devastadora.
Fico sempre na curiosidade tentando imaginar pra quem seria!
Depois te empresto o filme "Amor e Inocência" aquele da escritora de "Orgulho e Preconceito".

Beijo.

Robson Schneider disse...

Essa é a grande vantagem de escreverem blogs,livros, papel de pão, do Macdonalds sei lá...
Poder misturar verdades com mentiras, personagens na terceira, segunda, e até na primeira pessoa...e com a vantagem do benefício da dúvida.
Quer melhor?!