quinta-feira, 27 de março de 2008

Gosto de gostar do que gosto. E daí?

Eu sempre fico pensando... Por que será que tenho que ser tão "às avessas"?

Quando eu era criança, me deitava para dormir e ficava imaginando que o mundo inteiro era um complô, que todos eram monstros, inclusive meus pais, e que ficavam atuando para mim, me enganando. Além de isso confirmar que sempre fui muito desconfiada de tudo, também sempre me achei diferente de todo o resto. Sempre que escuto aquela música: "os vizinhos devem rir em frente ao jornal, eu desconfio de um complô, o maior que já se armou, uma conspiração internacional", me lembro disso.
Cresci em uma atmosfera interiorana que ouve música sertaneja e que só tem por cultura o que a TV expõe. Os únicos livros que já vi meus pais lerem foram os de cunho religioso ou best sellers.
Fui criada cercada de primos quase da minha idade. Todos os finais de semana estávamos juntos, e isso sempre fez com que eu estivesse suscetível a comparações todo o tempo. Eu sempre fui uma criança muito sedentária, tranqüila, que adorava ficar horas na frente da tv assistindo seriados, meus preferidos eram os japoneses e os mexicanos. Eu brincava com as outras crianças mas gostava de brincar sozinha, adorava conversar com as bonecas. Tinha só um irmão, cinco anos mais novo, então me acostumei com brincadeiras isoladas e não me importava com isso. Dizem até que antes de ele nascer eu já era muito egoísta e não dividia meus brinquedos com as outras crianças. Claro; de gênio difícil, nunca dava o braço á torcer, não expunha meus sentimentos e sempre muito antipática. Bela novidade...
O que eu gostava mesmo era de escutar conversas de gente grande. Sempre gostei de tudo que não era para mim, que eu não pudesse saber. (uma vez, aos cinco anos, descobri que uma de minhas primas era adotiva, nunca contei para ela, mas me sentia importante sabendo de algo que os meus outros primos não sabiam)
Até pra comer meus gostos eram diferentes das outras crianças. Nunca gostei muito de doces (com excessão de chocolate e sorvete) e adorava leguminosas. (minha mãe diz que eu era o menino do comercial: mãe, compra brócolis?)
Quando entrei na adolescência, isso ficou mais atenuado. Minha cabeça não acompanhava as mesmas idéias que dos outros jovens da minha idade. Nunca gostei de passear no shopping, de balada posto-combustível (o que é muito comum aqui na minha cidade), de shows, e nem de nenhum outro tipo de passeio que eles faziam. Não gostava da moda do "ficar", não criticava, mas nem me sentia preparada para isso naquela época. Brinquei de boneca até os treze anos.
Enquanto todas as minhas primas e amigas estavam descobrindo o paquerar, "ficar" ou até mesmo namorar, eu vivia trancada em casa, com meu platonismo exacerbado devorando livros e sendo devorada pela ilusão.
Na escola, eu amava fazer redações, fazia até as dos meus amigos, todos achavam o cúmulo, mas eu sempre adorei escrever. Sempre tive muito gosto por diários íntimos, agendas, bloquinhos de anotações e cartas.
Meu universo sempre foi paralelo e minha mãe se preocupava muito comigo, dizia que eu não vivia a realidade, estava sempre ensimesmada e escondida atrás do meu "mundinho particular". Mas eu sempre me achei feliz, só que às vezes duvidava disso por tanto ouvir que era estranha, mas eu era feliz do meu modo.
Enquanto todos se apaixonavam e se desapaixonavam eu passei sete anos gostando da mesma pessoa, achando que iria morrer amando para sempre, e quase o tempo todo isso foi platônico.
Se fiquei com outras pessoas e fui a outros lugares, foi por puro mérito da obrigação, pra fazer social, eu odiava sair de casa, e não assimilava (não assimilo ainda) a idéia de ficar com alguém no mesmo dia que conheço.
Enquanto todos gostavam de ver novelas nacionais, eu sempre fui apaixonada por dramalhões mexicanos. Eu sei que é excêntrico, e até para muitos de mau gosto, mas eu não tenho vergonha de dizer que gosto e que me fascina.
Enquanto todos ouviam música sertaneja ou qualquer outro tipo de aberração, eu ouvia MPB.
Enquanto todos liam livros de auto-ajuda ou best sellers eu adorava literatura clássica.

Hoje eu freqüento bares, saio, não tenho problemas com isso. Mas ainda detesto show e shopping. Talvez seja preconceito meu, mas prefiro mil vezes o cinema ou o teatro.

Até mesmo no meio de gente que estuda literatura é difícil me localizar. Minhas professoras dizem que é raro pessoas fascinadas por Clarice Lispector como eu, e é verdade, só encontro pessoas que realmente se interessam por ela pela internet. O povo sempre diz que ela é hermética, então deve ser esse o motivo da minha devoção. Na faculdade encontrei pessoas que se parecem também comigo mas existe algumas particularidades que nunca vi em ninguém:

- Ainda não encontrei ninguém que tenha gosto por hospitais, pessoas pálidas e por cerimônias fúnebres (sem ser gótico e nem emo)
- Ainda não encontrei ninguém ache bonito morrer de tuberculose (só em comunidade no orkut)
- Ainda não encontrei ninguém que tome sopa com vinagre mas que não aceite vinagre na salada. (essa nem eu entendo)
- Ainda não encontrei ninguém que coma pipoca com limão.

Enfim, me rendo! Agora ficou mesmo muito difícil discordar de quem me achar estranha.

Claro, Clarice para finalizar:
"E se me achar esquisita, respeite também. Até eu fui obrigada a me respeitar"

p.s.: Pessoas, me escrevam, gostem de mim, sejam meus amigos. Eu sou uma pessoa legal, podem acreditar. hahaha

14 comentários:

...VERONICA disse...

ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhha
ahhhhhhhhhhhhhhhhha
ahahahhhhhhhhhhhhh

(emocionada)

amigaaaa....a first!!

que emoçãoooooo

agora a titia aqui tb é cult!

aff..rs

Tb sou esquisita...e o pior que discuto cmg por isso!

Bjooo ..KIM!

Nathália E. disse...

Eu sempre fui uma criança muito sozinha, mas foi por opção.
Não que eu não gostasse das outras crianças, mas é que, sei lá, não nos identificávamos muito.

Meu grupo no colégio sempre teve mais meninos do que meninas. Eu gostava da simplicidade e sinceridade com que os meninos agiam. E da facilidade de brigar e logo depois perdoar, de verdade.

Até hoje muitas pessoas não me entendem e não gostam do meu jeito de ser. Me sinto mais a vontade sozinha e conversar é um pouco (muito) difícil. Meus sentimentos, então, são um caso a parte. Me baseio por extremos, ou seja, ou amo loucamente alguém ou então as pessoas são indiferentes pra mim.
Aliás, minto, no meio termo dos extremos existe a "leve simpatia". Rs.

Mas odiar, odiar mesmo, não consigo. Nunca consegui. Mas não sou idiota, não me submeto.

Me sinto estranha, avulsa a tudo o que é considerado normal. Mas isso não é de todo ruim. Aliás, é ótimo. Gosto de me sentir fora dos padrões, ser eu mesma de verdade.
Até o mês em que eu nasci me faz ter orgulho próprio: Abril. O único mês do ano que não termina com "o". Hahaha.

Beijo.

...VERONICA disse...

amiga..sei q fez aquilo..(me chamar de chata..perante publico (ainda nao tem ,,mas terá..kk)

só p\ eu postar aqui..mas td bem!
faz parte do meu show..meuu amorrr!
kk

não TO chata...eu SOU!..kk é diferente!

Bjo

Marcelo disse...

Pois é..A minha infância foi bem parecida com a sua.
Eu também sempre fui muito ensimesmado, tinha um gosto musical "exótico" para os que me cercavam, ficava hooooooras em frente a tv assistindo seriados, lia muito, escrevia, desenhava e tocava meu teclado.
Eu ficava o dia todo trancado em meu quarto enquanto todos estavam na rua brincando.
Realmente eu vivia em um mundo particular (ainda vivo de certa forma) e adoro ser e viver assim...

Beijinhos meus.

Anônimo disse...

cara, eu simplesmente amei aqui! *---*
temos muitas coisas em comum, idolatro clarice lispector, meu grande amor, sou um pouco esquisita, qdo era mais nova também não gostava de sair, brinquei de boneca até os 14 anos, só comecei a namorar com 15 anos, gostei de um mesmo cara 3 anos e 11 meses, não era adepta da 'moda' ficar, e tenho um gosto musical bem variado, além de clarice, gosto de cruz e sousa, florbela espanca, lord byron, mario quintana e cecília meireles. x}

=*

Unknown disse...

Amiga, já dizia Caetano: " De perto ninguém é normal" kkkkkkkkk...

Fique tranquila...todo mundo têm suas "esquisitices"

beijos

Amanda Oliveira disse...

hahahahahahahahhahahhahahahh ! NOOSSSA, EU TAMBÉM TOMO SOPA COM VINAGRE!! eu adoro isso ! E não é que me identifiquei com o teu blog também? Muito bom mesmo esse seu texto, me vi escrevendo ele! hehe ;D
Então, minha visita será constante por aqui. Te coloquei nos links! Beijos.

Ps: Pra que perder 15 quilos mulher? :O

Amanda Oliveira disse...

Então, tem msn? Ou mais algum outro intem na internet? :) Acabei de publicar mais um texto novo, acabou de sair do forno ;*

Wev's disse...

Pipoca com Limão!!!

é...



As estranhezas sem assemelham em todos os campos das esquisitices...

Relaxa, você é mais normal do que muito estranho!

Narradora disse...

"Cada pessoa é um mundo, cada pessoa tem sua propria chave e a dos outros nada resolve; só se olha para o mundo alheio por distração, por interesse, por qualquer outro sentimento que sobrenada e que não é o vital; o “mau de muitos” é consolo, mas não é solução.”"

Bom, pelo jeito, aqui, somos todos esquisitos...rs
Ufa, que alívio!

Narradora disse...

O texto é da Clarice.
Bjs.

Cris Medeiros disse...

Eu sou uma extraterrestre, tenho certeza disso... rs

Todos meus gostos são invertidos, ou quase todos... rs

Sempre fui de me isolar também. Hoje em dia estou pior.

Beijos

@eddiepomini disse...

Estranheza?
Quer que eu comece a falar as minhas?
Ainda bem que vc me conhece e sabe um pouco das minhas...
Nas suas a que me encaixo melhor, é pela parte funebre.
ADORO enterros americanos, roupa preta, oculos de sol mesmo quando esta chovendo, alguem falando palavras bonitas, aquele cemitério sem tumulos...
É lindo!
Se um dia eu morrer. Eu quero.

Beijo.

Alessandra Castro disse...

Ahhh isso é sindrome do superior. Desculpa mas eu muitas das vezes acho q tenho muito mais valores que outras pessoas, cansei de lutar contra este sentimento. Ignoro e fico feliz ao econtrar pessoas que assim como eu são consideradas diferentes. ;*