sábado, 29 de março de 2008

É, matei.

Não acredito no que estou sentindo. Sempre quis saber como alguém pode matar sem piedade. E matei!
Quando fui tomar banho, agora mesmo, achei lá, do lado de dentro do box, uma barata. Já lenta por causa do veneno espalhado pela casa, mas estava lá. E me horroriza baratas. Eu as odeio. Me paralisam. Pensei em pegá-la com a pá de lixo e jogá-la no vaso sanitário, mas ela se mexia, e poderia sair correndo, o que me deixaria em pânico. Como é que um inseto tão pequeno e inexpressivo pode paralisar uma pessoa? Mas eu estava com raiva.
Foi então que tive uma idéia. Iria matá-la.
Mas não de qualquer forma, eu iria matá-la de uma forma cruel. Ela morreria de qualquer forma, era o seu destino, e por que eu não poderia testar em um animal asqueroso a minha vontade de ser cruel? Sim me encanta a crueldade dos assassinos. Não que eu tenha coragem de matar uma pessoa, temo até pela minha felicidade em matar um inseto, mas eu sempre penso nisso.

E então eu procurei o veneno, não achei. Pensei em afogá-la numa dose muito grande de veneno, mas não encontrei.
Saí pensando em como me vingaria e na minha revolta involuntária.
Achei um desodorizador ambiental, daqueles em spray. E espirrei na barata, que só mexia as pernas. E ela não morreu. Espirrei outra vez, e outra... A culpa dela é que não morreu, eu teria que ser mais cruel ainda.

Saí, muito entusiasmada, pensando em como fazer do melhor, ou seja, do pior jeito possível. Achei uma garrafa, embrulhada em uma sacola plástica com um líquido incolor. Pensei que era querosene, mas não, era tíner.
Não pensei, joguei duas doses, medidas na tampa, em cima da barata. Ela ainda se mexia, e minha raiva cresceu. Por que ela era tão burra, por que queria sofrer mais ainda? Daí não era mais culpa minha, ela escolheu assim; pensei: vou incendiá-la!
Me assusto muito com o prazer que essa idéia me causou.

Procurei fósforos e não os encontrei. O fogão é elétrico e aqui não usamos fósforos para nada. Mas eu tinha que matar depressa aquela barata, se alguém chegasse eu não iria poder incendiá-la, não queria que o assassinato fosse convencional. Veja, eu nunca mato baratas, me dá nojo. Não tenho coragem de matá-las á sapatadas, odeio os fluidos internos de uma barata, também não consigo matar com nenhum outro objeto, tenho nojo do mesmo depois. Eu poderia, agora que ela quase já não se movimentava de tão entorpecida, apenas pegá-la com a pá e atirá-la ao lixo, mas eu já estava muito envolvida com a idéia de matar.
Foi então que eu tive uma idéia. Quando se quer alguma coisa as idéias fluem.
Peguei um palito de madeira e acendi no fogo do fogão. Fui andando lentamente até o banheiro para que ele não se apagasse. Olhei a barata se movimentando lentamente e sorri. De escárnio mesmo. Não pensei, atirei o palito e o fogo se espalhou de súbito. Me assustei, as chamas pareciam maiores do que supus. Pensei em apagar, mas não, eu precisava vê-la queimar, e se jogasse água, seria como um refrigério.
O fogo diminuiu e se resumiu apenas ao redor do inseto asqueroso e nojento. Eu ri, várias vezes...
O cheiro de queimado me irritou, eu não queria sentir o cheiro do inseto se queimar. Me arrepiei. O que eu senti foi tão intenso que voltei para o computador para contar. Se deixasse passar não saberia como descrever, tenho certeza.
Detalhe, teve um fundo musical: "Same mistake" - James Blunt. Coloquei para repetir.

Agora ela está lá, morta. Isso mesmo, ela está morta. E fui eu quem a matou. Eu sou responsável pela morte dela, estaria viva se não fosse a minha vontade de matar.

Agora entendo "GH", entendo perfeitamente. A diferença é que lá o assassinato ocorreu por susto, e aqui foi totalmente voluntário. Não, não pensem bobagem, não vou devorá-la.
Mas premeditei tudo, eu quis matá-la. Quis muito.
Vou parar, tem um cadáver no banheiro, esperando para que eu me desfaça dele. E todo cadáver merece as honras de "boa hora". Será digno.

hahahahahaha!

"Que eu não queime nas chamas do inferno. Amém."

* GH: "A paixão segundo GH", de Clarice Lispector, no qual a personagem principal entra em profunda epifania por matar uma barata e pasmem: ela come o cadáver do inseto. Isso aqui não é uma parodia, nem uma paráfrase da obra clariceana, eu matei a barata porque era ela quem estava no banheiro. Eu precisava matar alguém mas se ao abrir o box eu visse você, ahhhh... acha mesmo que eu te mataria? hahahaha

12 comentários:

...VERONICA disse...

ana...vc matou uma indefesa barata

to de mal!

@eddiepomini disse...

Nunca imaginei que a morte de uma barata renderia tanto assunto!
To com medo de vc.
Dizem por aí, não sei, que os assassinos em série começam matando baratas...
Vou investigar.
Ahhh e pode ficar tranquila, CSS, é nada mais nada menos que o Cansei de Ser Sexy.
Sim, meu sonho é ser VJ.
Rararararararraraa

Beijo.

Cris Medeiros disse...

Voce agora provou que pode escrever sobre qualquer assunto! Tenho que me render ao seu talento de escritora... rs

Beijos

Nathália E. disse...

Eu mato barata da forma mais simples: pego chinelo é *páá* esmago-a! Mas também tenho nojo dos fluidos internos, por isso deixo o chinelo ali, em cima do cadáver.

Cara, sinceramente, esse conto do assassinato da barata é normal. Mas você já sentiu vontade de arrastar a cara de alguém no muro chapiscado e se deliciar com a idéia? Pois eu já! Hahaha.
Mas sei lá, acho que por vontade própria, nunca mataria alguém.

É isso. Vida curta as baratas!

BeijO!

Breno C. disse...

Cara você é ruim...
To até com medo de você...

Ana Laura disse...

Ahhhhhh gente, o que é que é?????

A barata ia morrer mesmo, estava envenenada!


Pelo menos eu dei importância a morte dela, publiquei, dei créditos. Aposto que vocês iriam apenas dar uma chinelada, jogá-la no lixo e se esquecerem dela para sempre. Que medíocre!

hahahahahahaha


"Oh, não se assuste muito. Às vezes, a gente mata por amor, mas eu juro que um dia a gente esquece. Juro."

Alma disse...

meu deus, e se fosse Kafka encarnado?

Breno C. disse...

Esqueci de dizer que você, além de má, é sádica...o que é bem pior, você vai morrer e não vai para céu...huhahauhaua

Ana Laura disse...

Atire a primeira pedra quem nunca matou uma barata!

...VERONICA disse...

euuuuuuuuuu..pq como diz Fernando!

sempre acho q Kafka...esta por lá..rs

...VERONICA disse...

era..???????????
amigaa

Bill Falcão disse...

Este post me lembrou MUUUUUITOOO uma amiga que eu tinha, quando ainda morava no Rio, e que ficava lendo trechos de Clarice pra mim, todas as vezes em que eu a visitava. Esse trecho da barata, lembro muito bem: ela ficava tremendo, lia com a testa franzida, os dentes trincados, suava frio pra poder continuar! Sim, querida Ana: como é possível que uma simples (para nós, homens!)barata possa produzir tanto medo, tantas reflexões, tanta literatura boa?
Meu bjooooooooooooo!!!!!!